Histórias dos Trabalhadores Técnicos da Fiocruz

Manguinhos de Muitas Memórias

Alargar o tempo

Para a memória não existe passado e presente, pois está ligada à herança, à tradição. Ao mesmo tempo, é o que mantém nossa existência, pois é a única maneira de sobrepor a vida à morte, o espírito contra o vazio, renovando os elos entre gerações e a preocupação com o passado coletivo. Neste módulo, queremos registrar as ancestralidades que nos habitam e que nos fazem participar do continuum da história, alargando o tempo.

Por isso, este espaço é um convite para que você continue participando e colaborando com a história dos trabalhadores técnicos da Fiocruz. Se você conhece ou é alguém que trabalhou como técnico da Fiocruz, entre em contato conosco através do email expomemoria.epsjv@fiocruz.br e conte-nos essa história! Ficaremos felizes em publicar seu relato.

Depoimento de Gregório Albuquerque, ex-aluno da EPSJV/Fiocruz da turma de 1998

Falar de Joaquim Venâncio é falar da minha vida, seja acadêmica, profissional ou particular. Em 1998 prestei concurso para o ensino médio da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio da Fiocruz. Não conhecia a escola muito menos a história de Joaquim Venâncio, fiz porque uma amiga da minha mãe falou que tinha. Estava em um período saindo da minha escolinha de bairro onde passei a vida toda e não tinha o ensino médio. Então precisava arranjar uma outra escola. Fiz a prova sem muita expectativa, eram só 10 vagas. Nesse ano a inscrição foi "de grátis" e muitas pessoas se inscreveram, a concorrência era grande. Além disso, estava competindo no Estadual de Natação quando aconteceu a prova da segundo etapa. Essa prova consistia em uma carta para a presidência da Fiocruz que estava construindo o atual Museu da Vida e tínhamos que escrever sobre a criação do Museu. Lembro bem desse dia, porque realizei a prova em uma sala com um ar condicionado muito bom.

Mas o que seria histologia? Quem estuda história? E patologia? Patos? Melhor mesmo escolher Administração Hospitalar que eu sabia o que era. Não tinha noção de como eram as coisas mas tinha  que encontar uma outra escola para dar continuidade aos estudos. E essa foi uma tentativa que mudou toda a minha vida.

O primeiro ano de Joaquim Venâncio foi um choque. Saindo de uma escolinha para um lugar com matos e comunidades ao redor que tinha sinuca e bebidas mais baratas. Como lidar com isso? Na reunião dos pais André Malhão avisa “aqui não tem muros, tem liberdade, mas ao mesmo tempo mais responsabilidades”. Quanto mais livre, mais me tornava responsável? Depois de anos que entendi e esse se tornou o meu lema até hoje. Filosofia? Professora Aissa Guimarães falando “calma gente, primeiro bimestre é assim mesmo”. Nunca tinha tirado 6.0 e muito menos recuperação... depois passou a ser padrão.

Educação Física com prova? Módulo Básico? Fiocruz pra você? Viagens pedagógicas? Provas que precisam ser respondidas com textos e não “é isso”. SUS, Aleph, ciência, dialética, utopia, parceirão Marx, monografia, sou pesquisador, apresentações de trabalho encenadas e eu segurando a cartolina por causa da timidez. Anos depois, já como professor, pude compreender cada experiência vivida. Estágio no INI (antigo IPEC). A monografia, em 2001, a famosa monografia que você vai sendo preparado desde o primeiro dia. Qual tema? O que isso significa para meu futuro? E significou mesmo! Graças à Denise Da Silva Gomes, que me chamou para trabalhar no projeto do Cartão Nacional de Saúde e lá fiquei. Denise é a responsável pelo que me transformei profissionalmente. Colação de grau na sexta, festa no sábado e segunda já estava na escola, trabalhando no projeto.

Dessa vez meu contato com Joaquim Venâncio tinha deixado de ser um vínculo de aluno para participante de um projeto, ou seja, era o início da minha carreira como profissional. A trajetória com Joaquim Venâncio se transformava, e foi apenas o começo. A professora Denise foi banca da minha monografia que estudou a “(R)evolução dos sistemas de saúde”, dentre eles o cartão nacional. O projeto do cartão estava inserido no Núcleo de Registros de Informações em Saúde, antigo NURIS, hoje LIRES - Laboratório de Educação Profissional em Informações e Registros em Saúde.  

Nessa época a EPSJV ficava dividida, funcionando em dois locais: no prédio da Expansão, onde eu ficava, e na pequena construção onde atualmente está situado o Departamento de Ciências Biológicas da ENSP. Trabalhei na expansão de 2001 até o primeiro semestre de 2004. 

Com a inauguração do novo prédio em agosto de 2004, toda a Escola pôde ocupar o mesmo espaço físico e isso foi motivo de muitas celebrações. Uma delas, foi a elaboração de um vídeo sobre a Escola que produzi junto com os alunos e que foi exibido na festa de inauguração. Por conta desta iniciativa, se deu uma outra mudança importante na minha trajetória profissional e fui convidado para integrar a equipe do recém criado NUTED (Núcleo de Tecnologias Educacionais em Saúde).  

Nesse núcleo pude me aproximar e propor atividades artísticas de produção imagética e discussão teórica. Em 2007 concebi e propus uma disciplina de audiovisual que compôs o componente curricular de educação artística do curso técnico do ensino médio (Artes visuais, teatro, música e audiovisual). Assim, em 2008, criei a disciplina de audiovisual. Os anos se passaram e os trabalhos com o audiovisual só aumentaram. Em 2010 foi o ano culminante do meu encontro com Joaquim Venâncio. Nesse ano realizei como preceptor do Trabalho de Integração (TI) o vídeo “Em busca de Joaquim Venâncio".

O vídeo foi “resultado de um trabalho de integração realizado por alunos da 1ª série da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, no ano de 2009. Contando com imagens de arquivo e depoimentos, o filme narra a busca por informações sobre o trabalhador técnico que dá nome à Escola, uma referência importante entre os trabalhadores da Fundação Oswaldo Cruz.” Nesse trabalho pude me aproximar mais da história de Joaquim Venâncio de uma forma que ainda não havia experimentado. Acho que esse momento foi o ponto de encontro do que passou e do que ainda iria passar, através de uma montagem cinematográfica. Foi um presente para mim, que permaneço na escola como professor e pesquisador, vivendo esta história.

"Em busca de Joaquim Venâncio" é também minha própria busca, na minha trajetória de vida e sua representação e relação com a EPSJV. Hoje escrevo emocionado sobre esse percurso profissional na EPSJV, uma das bases de toda minha vida.

Depoimento de Leandro Medrado, ex-aluno da EPSJV/Fiocruz da turma de 1990

Depoimento de Suellen Bento, ex-aluna da EPSJV/Fiocruz da turma de 2011

Ser aluna da Escola Politécnica que tem como patrono Joaquim Venâncio, foi uma honra e excelente oportunidade de aprender sobre a ciência e sua importância para a sociedade, com base nas constantes discussões acerca da importância da metodologia científica e da multiprofissionalidade na construção do conhecimento.

A formação na instituição despertou em mim anseio por contribuir para a ciência e educação em saúde, decisivos em minha escolha profissional com o objetivo de “fazer ciência” para servir à sociedade.


Na EPSJV tive a oportunidade de iniciar minha trajetória na ciência e hoje como acadêmica do Curso de Bacharelado em Biomedicina e profissional de saúde tenho a convicção de que recebi as ferramentas adequadas que somaram a minha formação acadêmica e pessoal.

uma mulher de jaleco azul e luvas olha no microscópio Suellen Bento no Curso de Férias realizado no Instituto Oswaldo Cruz, em 2018

Depoimento de Pedro Paulo Manso, ex-aluno da EPSJV/Fiocruz da turma de 1994